quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Questão 9 ENADE 2011 LETRAS - AGENTIVO - Autora: Leda Bisol

QUESTÃO 9

Quero pedir permissão à língua portuguesa para usar duas palavras que, na verdade, são
inexistentes oficialmente, quais sejam: crackudo e vacilão. Crackudo é originário do termo crack.
A palavra foi recentemente criada para identificar o indivíduo que é usuário dessa droga, ou seja,
crackudo nada mais é do que o consumidor do crack. Quanto a vacilão, tal palavra é originada do
verbo vacilar, que significa não estar firme, cambalear, enfraquecer, oscilar. Vacilão, na linguagem
popular, nada mais é do que o indivíduo que não mede as consequências dos seus atos e sempre
ingressa em algo que não é bom para si e que só lhe traz malefícios ou aborrecimentos. E, em assim
sendo, o crackudo é um vacilão!

Disponível em:
Acesso em: 12 ago. 2011 (com adaptações).

O sufixo [-ão] opera como uma desinência formadora de aumentativos, superlativos e agentivos
em português, como indicado no exemplo apresentado no texto acima. Tem-se, também, o sufixo
[-udo], que indica grande quantidade de X; em seu uso mais típico, X é igual à parte aumentada
(orelhudo, narigudo, beiçudo, barrigudo etc). Considerando essas informações e o texto acima,
conclui-se que o vocábulo “vacilão” possui um sufixo
A. agentivo, como o que se observa em “caminhão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”,
ocorre a mesma motivação semântica existente em “beiçudo”.
B. agentivo, como o que se observa em “mijão”, e que o sufixo [-udo] em “crackudo” apresenta a
mesma motivação semântica existente em “orelhudo” e “narigudo”.
C. agentivo, assim como o vocábulo “resmungão”, e que o uso do sufixo [-udo] em “crackudo”
resulta em uma formação vocabular incomum na língua portuguesa.
D. aumentativo, como o que se observa em “macarrão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”,
se observa a mesma motivação semântica existente nos vocábulos “orelhudo” e “sisudo”.
E. aumentativo, como o observado em “panelão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”,
se observa uma construção incomum na língua portuguesa, dada a produtividade baixa do
referido sufixo


* Gabarito: C
* Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta
* Conteúdos avaliados: Derivação; intuição linguística
* Autora: Leda Bisol
Comentário:
É uma questão interessante, mas sutil, que exige não só conhecimento detalhado de derivação
mas também intuição linguística. Seu conteúdo diz respeito a uma definição de ordem semântica que
envolve duas palavras em cotejo. Tais palavras são postas em paralelo no estilo de “vacilão assim
como resmungão e crackudo assim como narigudo”.
O ponto delicado é o termo agentivo, com que se inicia a maioria das alternativas oferecidas.
Agentivo é uma função semântica, que, no caso, manifesta-se na formação de palavras por afixação,
estabelecendo uma relação entre um indivíduo ou instrumento com uma ação, isto é, entre agente e
ação, a exemplo de “trabalhador” e “ventilador”.
Em “vacilão”, temos o sufixo –ão, como em “resmungão”. Em “crackudo”, temos o sufixo –udo,
como em “narigudo”. Ora, o primeiro forma tanto agentivos – como em “resmungão”, quanto não agentivos
– como em “panelão”, enquanto o segundo forma, em geral, não agentivos – como em “orelhudo”.
O ponto crucial é essa diferença. Mas a frase apresentada como exemplo ”O crakudo é um
vacilão” está a indicar que ambos estão sendo vistos como agentivos.
Semanticamente é uma questão discutível, pois “vacila-se”, em geral, por falta de condições
de firmeza; trata-se, portanto, de um caso de agente-paciente, da mesma forma que ocorre com o
adjetivo “crackudo”, a palavra nova.
É para essa sutileza semântica que chamamos atenção. Quanto à formulação, a questão está
adequada, sobretudo pelo uso do exemplo citado, que funciona como condutor da interpretação esperada.

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