quarta-feira, 10 de setembro de 2014

QUESTÃO 13 - ENADE COMENTADO - Estética do Modernismo em poemas de Manuel Bandeira - Autor: Ricardo Araújo Barberena

QUESTÃO 13

Texto I
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Por que o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Texto II
Madrigal tão engraçadinho
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha v ida,
 inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.

BANDEIRA M. Libertinagem & Estrela da manhã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2000, p. 36.

Os textos I e II


A. utilizam metalinguagem e temática do cotidiano, que são características da estética do
Modernismo.
B. apresentam características da estética do Modernismo, presentes nos versos livres e na
reescritura de textos clássicos do passado.
C. apresentam concepções diversas em relação à primeira namorada, porque a linguagem do texto I
se aproxima da prosa, ao passo que o texto II mantém a estrutura clássica do madrigal.
D. estão em consonância com a estética do Modernismo, pois são construídos em versos livres e
com linguagem que se aproxima da prosa, características pertinentes a esse estilo literário.
E. afastam-se da estética do Modernismo, pois apresentam distanciamento temporal: o eu lírico,
no texto I, rememora a infância e, no texto II, foca-se no presente.


* Gabarito: D
* Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta
* Conteúdos avaliados: Estética do Modernismo em poemas de Manuel Bandeira
* Autor: Ricardo Araújo Barberena
Comentário:
A alternativa (A) está errada porque no texto I e no texto II inexiste a presença de metalinguagem
no que se refere à escritura de um metapoema, ou seja, um poema pautado pela reflexão sobre
a própria arte poética. Quanto à utilização do cotidiano, enquanto temática, poderíamos afirmar
que existe um imaginário nostálgico que remonta o cotidiano infantil (“Quando eu tinha seis anos/
Ganhei um porquinho-da-índia”). Assim sendo, a alternativa (A) aponta para duas características que
verdadeiramente se presentificam no Modernismo, mas os poemas selecionados não constituem
exemplos de metalinguagem.
A alternativa (B) está errada porque em nenhum dos poemas percebemos claramente a
reescritura intertextual de textos clássicos do passado. A alternativa “B” é apenas em parte verdadeira
no tocante à afirmação de que os poemas estão organizados em versos livres. Desse modo, apesar de
associar os poemas ao Modernismo, torna-se falsa devido à inexistência de um exercício intertextual
entre os textos modernos e os textos clássicos.
A alternativa (C) está errada porque o texto I não tematiza objetivamente a primeira namorada
do Eu lírico, mas sim uma lembrança pueril de um animalzinho de estimação que era o companheiro
nos diferentes momentos do cotidiano. Ainda quanto ao conteúdo da alternativa, evidencia-se uma
afirmação errônea sobre a correspondência entre o texto II e a estrutura clássica do madrigal.
A alternativa (D) está correta porque ambos os textos estão em consonância com a estética
do Modernismo (primeira parte da afirmação). Seguindo o conteúdo da afirmação, percebemos que a
referência aos versos livres, enquanto organicidade estrutural dos poemas, também é verdadeira nos
poemas selecionados de Manuel Bandeira. Finalmente, faz-se alusão à ocorrência de uma linguagem
que se aproxima da prosa. No que se refere à hibridização entre verso e prosa, poderíamos selecionar
diferentes excertos para ressaltar como é verdadeira a presença de uma “prosa lírica”: Por que o
bichinho só queria estar debaixo do fogão! / Levava ele pra sala / Pra os lugares mais bonitos mais
limpinhos / Ele não gostava: / Queria era estar debaixo do fogão.
A alternativa E está errada porque os textos, de forma alguma, afastam-se da estética do
Modernismo. Ambos os poemas de Manuel Bandeira são ótimas exemplificações paradigmáticas
dos elementos estéticos presentes numa poética modernista (verso livre, prosa lírica, linguagem
cotidiana etc).


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