terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Diário de uma Ave Sonhadora - Gleice Alves de Oliveira

Era um singelo nascer do sol, e lá estava Luna, voando em meio a imensidão de seu  horizonte, em busca de seu eterno sonho, encontrar o tão sublime e almejado ninho. Não simplesmente um ninho, traduzido por um mero encontro de folhas secas, mas sim definido por um aconchegante porto seguro, interpretado pela mais bela e delicada sensação de estar segura, protegida, com a certeza da terna realização de seu importante ideal.
            Prosseguia então, mediante a um ansioso e incansável bater de asas, movida pela ardente esperança de transformar o que até então era visto como uma doce fantasia, em uma adorável e apaixonante realidade, a conquista de seu precioso tesouro.
            Luna seguia, e em meio a doce brisa tocando suas delicadas asas, anelava fortemente pelo impulsante desejo que guiava seu coração, e entre um voo e outro, sentira-se cada vez mais perto de seu intenso e fiel sonho.
            Um forte e atemorizante ruído era ouvido por Luna, era Antônio, o caçador, transformando um terno e singelo campo, repleto da mais terna pureza da amada mãe natureza, em um negro e obscuro cenário, mediante sua fiel e inescrupulosa companheira, sua arma. E então, a doce e vibrante alegria pulsionada pelo coração de Luna em se sentir cada vez mais perto de sua esperada e impulsante realidade, era então transformada em um forte e sombrio medo, este por sua vez, envolvia intensamente seu ingênuo e doce coração.
            Imediatamente Luna recuava, e em meio ao ato desesperado da fuga, em seu voo veloz e espantoso, transmitindo no profundo da pureza de seu ser toda aquela sensação de temor, ouviu mais uma vez aquele assombroso ruído. Era tarde, Antônio havia avistado aquele pequenino, doce e frágil ser.
            Algo de profunda dor ocorria, Luna sentia em uma de suas tão frágeis e pequeninas asas aquele instrumento gerador do medo em seu ser, consumindo-a por inteiro; e então, aquela doce sensação impulsante pelo tão almejado tesouro, consumadora de seus puros e eternos sonhos, era misturada agora com o árduo sangue corrente da tão inocente asa ferida. Desesperada e anelante por socorro, Luna emitia sons agonizantes, movida pelo cruel cansaço da frágil asa restante.
            Uma forte e intensa escuridão lhe sobrevinha e aliada a ela, a lenta, perversa e destruidora perda da esperança em voar em busca do tão precioso ninho, consumindo como um fogo ardente aquela inocente criaturinha e levando consigo, sem um mísero vestígio de piedade, aquele doce sonho, motivador de sua fiel existência.