quarta-feira, 24 de setembro de 2014

ENADE - QUESTÃO 20 -Conteúdo avaliado: Sintaxe de concordância; concordância ideológica (sínese/silepse). * Autores: Antônio Dalpicol e Gilberto Scarton

QUESTÃO 20
De ordinário, quando se diz que certo termo deve concordar com outro, tem-se em vista a
forma gramatical do termo de referência. Dúzia, povo, embora exprimam pluralidade e multidão de
seres, consideram-se, por causa da forma, como nomes no singular. Há, contudo, condições em
que se despreza o critério da forma e, atendendo apenas à ideia representada pela palavra, se faz a
concordância com aquilo que se tem em mente. Consiste a sínese em fazer a concordância de uma
palavra não diretamente com outra palavra, mas com a ideia que esta última sugere.

SAID ALI, M. Gramática histórica da língua portuguesa. 7. ed. Rio de Janeiro:
Melhoramentos, 1971(com adaptações).

A definição extraída de Said Ali, reproduzida acima, apresenta uma figura de sintaxe, a sínese,
identificada, na maioria das vezes, em variantes mais populares da língua. Assinale a opção que
apresenta um exemplo desse tipo de fenômeno sintático.
A. A maioria dos porcos ainda estava sendo recolhidos naquela hora.
B. Ao pobre homem mesquinho, basta-lhe um burrico e uma cangalha.
C. Chegaram o pai, a irmã e o cunhado com uma pressa que assustava.
D. Pretendia implantar um monopólio exclusivo de café e tabaco na região.
E. No fundo, a multidão se consolava. Para isso, pensavam em nós mesmos.
* Gabarito: E
* Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta
* Conteúdo avaliado: Sintaxe de concordância; concordância ideológica (sínese/silepse).
* Autores: Antônio Dalpicol e Gilberto Scarton

Comentário:
Há três tipos de concordância facilmente distinguíveis em língua portuguesa: concordância gramatical
ou lógica; concordância por atração ou influência; e concordância ideológica (silepse ou sínese).
A concordância gramatical ou lógica é aquela que se estabelece entre o verbo e a forma do(s)
núcleo(s) do sujeito (concordância verbal); e entre o substantivo e seus determinantes (concordância
nominal). É o tipo de concordância que segue a regra geral: na verbal, o verbo concorda com o
sujeito em número e pessoa; na nominal, os modificadores/determinantes (artigo, numeral, adjetivo,
pronome) concordam com o substantivo em gênero e número.
Exemplos:
1. Verbal – A apreensão e o pânico apertaram-lhe a garganta.
O verbo “apertaram” concorda com o sujeito composto “a apreensão e o pânico” em
número e pessoa.
2. Nominal – Usava barba e cabelo compridos.
O adjetivo “compridos” concorda com os substantivos “barba e cabelo”. Note-se que, havendo
substantivos de gêneros diferentes, a concordância se faz no masculino plural.
A concordância por atração ou influência é a que se estabelece com apenas um núcleo de
um sujeito composto ou com outro elemento que não seja o núcleo (na concordância verbal); ou com
apenas um núcleo do substantivo composto (na concordância nominal).

Exemplos:
1. Verbal – Apertou-lhe a garganta a apreensão e o pânico.
– O verbo “apertou” está no singular por concordar com o termo mais próximo do sujeito
composto, “a apreensão”.
2. Nominal – Usava barba e cabelo comprido.
– O adjetivo “comprido” está no singular (masculino) por concordar com o termo mais
próximo, “cabelo”.
A concordância ideológica (sínese ou silepse) é a concordância que se dá com a ideia que a
palavra nuclear sugere, e não com a forma gramatical desta.
A sínese, referida na questão em comento, mais comumente denominada de silepse, atém-se
mais ao sentido do que ao rigor gramatical; é, portanto, uma construção sintática em que se privilegia
o sentido em detrimento da forma. Apresenta-se através de três estruturas:
Silepse de número – Aquela gente gritava transtornada. Pareciam enfurecidos por algo que
não podiam determinar.
– O sujeito “aquela gente” está na forma singular, mas transmite uma “ideia” plural (coletiva); por
isso, na sequência, há uma concordância plural – “pareciam enfurecidos ... podiam”.
Silepse de gênero – Sua Senhoria era empreendedor e amigo de todos.
– O pronome de tratamento “Sua Senhoria” apresenta forma gramatical feminina, no entanto
concorda no masculino “empreendedor/amigo” por se referir a um elemento masculino.
Silepse de pessoa – Os professores de Letras da PUCRS sempre respeitamos os acordos
ortográficos.
– Numa relação lógica, o sujeito “os professores” concordaria com o verbo na terceira pessoa
do plural, “respeitam”; no exemplo, porém, o verbo está na primeira pessoa do plural, “respeitamos”.
Isso acontece pelo fato de o enunciador se incluir na ação, o que indica que ele também é professor
de Letras da PUCRS.
Com base no exposto, analisam-se as alternativas de resposta para a questão 20:
A) Concordância gramatical ou lógica: o verbo “estava” concorda com o núcleo do sujeito
“maioria”. O particípio “recolhidos”, por sua vez, concorda, por influência da forma plural, com o
adjunto do sujeito “porcos”.
B) Concordância por atração: na oração “basta-lhe um burrico e uma cangalha”, o verbo
“basta” concorda com “um burrico”, por ser o termo mais próximo.
C) Concordância gramatical ou lógica: o verbo está no plural – “chegaram” –, concordando
com o sujeito composto “o pai, a irmã e o cunhado”.
D) Concordância gramatical ou lógica: o substantivo “monopólio”, masculino/singular,
apresenta os determinantes “um/exclusivo” também no mesmo gênero e no mesmo número.
E) Concordância ideológica/sínese/silepse: o sujeito “a multidão” apresenta forma singular;
no entanto, transmite uma ideia plural/coletiva. Assim, na sequência, temos o verbo no plural –
“pensavam”. Esta é, portanto, a concordância solicitada no enunciado da questão.

Referência:
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 30. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.

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