quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Professora Drª. Renata Gomes: Uma fã de literatura e cinema

Uma fã de literatura e cinema


Renata Gomes — a ‘Glória Maria da educação’ — é professora de inglês e vice-coordenadora do curso de Letras
Por Tania Neves
emfoco@feuc.br
Renata Gomes defendeu em junho sua tese de doutorado. (Foto: Gian Cornachini)
Renata Gomes defendeu em junho sua tese de doutorado. (Foto: Gian Cornachini)
Foi nas salas de aula das FIC que a professora de inglês Renata de Souza Gomes teve o insight do que viria a ser o seu tema de pesquisa no doutorado em Linguística Aplicada, que ela defendeu em junho passado no Programa Interdisciplinar de Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O título, ela chama a atenção, “parece até enredo de escola de samba”: “Estudo sobre possíveis ressignificações de A Streetcar Named Desire, de Tennessee Williams, na sala de aula de literatura dramática em um curso de Letras”. Trocando em miúdos, Renata investigou o quanto a literatura circula de forma mais fluente quando adaptada ao cinema.
“Quando comecei a dar aulas na faculdade, em 2009, já explorava essa interação entre literatura e cinema, levando à sala de aula versões cinematográficas de textos estudados, para estimular o interesse dos alunos. E foi essa experiência que acabou moldando a tese”, conta Renata, que também é vice-coordenadora do curso de Letras. De tanto ouvir questões do tipo “Se vi o filme, posso deixar de ler o livro?”, “Gostei mais do filme do que do livro” e “Acho que o diretor do filme corrompeu o sentido do livro”, a professora se interessou por investigar mais a fundo até que ponto o uso do cinema tinha o poder de alavancar o letramento crítico literário dos alunos, e para isso escolheu um autor de língua inglesa — o dramaturgo Tennessee Williams — e uma obra específica dele: a peça “Um bonde chamado desejo”.
Ela então formou três grupos focais de alunos: um que somente leu a peça, outro que apenas viu o filme e um último que leu a peça e viu o filme. E pôs todo mundo para debater, longamente. “Minha pesquisa consistiu em analisar essas falas, observando o modo como cada grupo construiu seu entendimento a partir do acesso que teve à obra, e de que maneira o cinema auxiliou nessa construção”, revela Renata. Segundo a professora, uma das principais conclusões da tese é que o uso do cinema na educação dá mais voz ao aluno, dessacralizando um pouco a literatura e tornando-a acessível a públicos maiores.
Especificamente no caso estudado, Renata observou que os estudantes se sentiram mais empoderados no campo literário, a partir da perspectiva de poderem atuar também como críticos: “Vendo que a versão cinematográfica era um modo de o diretor interpretar a obra literária, eles se permitiram também interpretar, o que é extremamente positivo no letramento crítico”, explicou a professora, que sempre sonhou fazer uma tese que não fosse engavetada depois. Para ela, os resultados obtidos apontam para a total pertinência da integração entre cinema e literatura na sala de aula: “Quando o professor se concentra apenas no estudo da crítica literária, o aluno se torna mero consumidor de teoria”, acredita.
Renata recebeu da FEUC uma plaquinha em homenagem à conquista profissional. (Foto: Gian Cornachini)
Renata recebeu da FEUC uma plaquinha em homenagem à conquista profissional. (Foto: Gian Cornachini)
Renata recebeu da FEUC uma plaquinha em homenagem à conquista profissional. (Foto: Gian Cornachini)
Renata recebeu da FEUC uma plaquinha em homenagem à conquista profissional. (Foto: Gian Cornachini)
Renata Gomes começou a cursar Letras muito cedo, aos 16 anos, e naquele momento ainda tinha uma pontinha de dúvidas sobre se deveria trocar para Jornalismo. Mas, quando teve a primeira aula de literatura de língua inglesa, as dúvidas se dissiparam: “Eu me encontrei, e na mesma hora disse: quero dar aula de literatura inglesa!”, conta a professora, fã de literatura e cinema, que além do ensino superior leciona também no básico, dando aula de língua inglesa em uma escola municipal.
O longo período de pesquisa no doutorado, somado ao trabalho diário e a problemas de saúde vividos em família, tornaram Renata meio reclusa nos últimos tempos. Tem poucos meses que ela voltou, timidamente, a se entregar a alguns prazeres, como sair com os amigos e pôr o cinema em dia. Para o futuro, os planos são ao mesmo tempo simples e trabalhosos: profissionalmente, fazer um pós-doutorado em letramento literário; na vida pessoal, aprender a cozinhar, construir sua casa e… casar — não necessariamente nesta ordem: “Não sei fritar um ovo!”.
E se o caro leitor sentiu falta da referência à idade da professora neste breve perfil, saiba que não foi por esquecimento de perguntar: “Eu não revelo! Sou uma espécie de Glória Maria da educação: ninguém sabe a minha idade. Meus alunos vivem fazendo apostas para descobrir. Então, se eu contar, acabo estragando um dos maiores prazeres deles”, despista a professora.

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