quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sobre empoderamento feminino

Sobre empoderamento feminino

Evento organizado pelo DCE-FEUC lotou auditório para debater a condição da mulher na sociedade
Por Pollyana Lopes
O Encontro de Mulheres da Zona Oeste foi o primeiro evento do ano organizado pelo Diretório Central dos Estudantes da FEUC e marcou o Dia Internacional da Mulher com informação, debate, argumentos e diálogo. Em comum, todas as palestrantes se mostraram firmes nas premissas, reflexivas sobre consensos e empoderadas na presença. O encontro começou com a exibição do vídeo institucional produzido pela FEUCque homenageia a diversidade e singularidade das mulheres e de um segundo vídeo, feito pela UNE, de cobertura da passeata ocorrida no dia 8 de março, em São Paulo, em defesa de direitos das mulheres e contra a violência de gênero.
Gabriella, Meire, Thiago e Rosineide na mesa do auditório enquanto Domingas e Ingrid continuavam o debate em uma sala de aula. (Foto: Pollyana Lopes)
Gabriella, Meire, Thiago e Rosineide na mesa do auditório enquanto Domingas e Ingrid continuavam o debate em uma sala de aula. (Foto: Pollyana Lopes)
Entre os assuntos em pauta, ficou a cargo de Gabriella Dias, estudante do curso de História das FIC, falar sobre o feminismo de modo geral. A estudante explicou que se trata de um movimento social que luta pela igualdade de gênero, mas que dentro do feminismo existem vertentes que divergem na compreensão das causas da desigualdade, porém dialogam em muitos aspectos, pois têm um mesmo objetivo.
Para falar sobre a imagem da mulher negra, Ingrid Nascimento, também estudante de História nas FIC, apresentou exemplos da sexualização abusiva que atrizes e modelos negras passam com frequência. Ingrid apresentou casos de diferentes épocas, desde a Vênus Hotentote, mulher africana levada à Europa para ser exibida como um animal exótico, até a capa censurada do disco do músico Jonas Sá, que trazia apenas a região pélvica de uma negra nua.
Ao final do evento, mesmo com pouco tempo, as palestrantes comentaram e responderam questões levantadas pelo público. (Foto: Pollyana Lopes)
Ao final do evento, mesmo com pouco tempo, as palestrantes comentaram e responderam questões levantadas pelo público. (Foto: Pollyana Lopes)
Em uma das falas mais longas e contextualizadas, Meire Lucy Cunha, graduanda em Letras e bolsista do PIBID-FIC, apresentou o colorismo ou pigmentocracia, tipo de discriminação muito comum em países colonizados, em que as pessoas são mais excluídas e hostilizadas quanto mais escura for sua pele.
“Precisamos entender que em toda nação, todo povo que foi colonizado, as marcas da colonização vão permanecer. Porque a mais eficaz forma de colonização não é apenas territorial, não é apenas econômica. Ela se torna profundamente eficiente a partir do momento em que você convence aquele indivíduo que ele está incluído naquela condição que eu digo que ele está e, a partir daquele momento, ele acredita naquele papel e encarna aquela condição de dominação”, explicou a estudante.
Para falar sobre transfeminismo, Thiago da Silva Rodrigues, que é transexual, apresentou dados sobre a violência que mata travestis e transexuais cotidianamente e abordou a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho por essas pessoas e as duas principais leis sobre pessoas trans: uma que tipifica e pune a discriminação, e outra que permite o uso do nome social em instituições de ensino.
“O Brasil é o país, no mundo, que mais mata pessoas trans. Estima-se que a expectativa de vida de uma travesti ou de uma pessoa trans, no Brasil, é de 30 anos de idade. Ao mesmo tempo, de acordo com uma pesquisa de um site pornográfico mundial, os usuários brasileiros são os que mais procuram por vídeos pornôs de mulheres trans. É o objeto sexual verdadeiro, mas não é objeto sexual declarado, é aquele objeto sexual da escuridão da noite, encoberto, que ninguém pode saber”, enfatizou.
Auditório da FEUC não suportou a quantidade de pessoas e o evento precisou ser dividido. (Foto: Pollyana Lopes)
Auditório da FEUC não suportou a quantidade de pessoas e o evento precisou ser dividido. (Foto: Pollyana Lopes)
Quem também contribuiu foi Domingas Mulenza, Diretora de Mulheres da UEE, que provocou os presentes com temas polêmicos como aborto e o projeto de lei do deputado Eduardo Cunha que dificulta, às mulheres, o acesso a políticas de saúde em caso de abuso sexual.
Por último, a professora das FIC Rosineide Cristina apresentou vídeos produzidos pela Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra) sobre a violência contra a mulher, e provocou a reflexão dos presentes com questionamentos e exemplos.
A procura pelo evento foi tamanha que o auditório da FEUC não foi suficiente. Os presentes se dividiram entre o espaço e uma sala de aula, onde as mesmas palestrantes repercutiram o debate. Sobre a grande procura, inclusive de estudantes de outras universidades, Marcella Gouveia, diretora de cultura do DCE e uma das organizadoras do evento destaca:
“Mesmo que algumas pessoas tenham vindo apenas por causa das horas de atividades complementares, eles estavam aqui e participaram de um debate que é muito importante. Porque a gente precisa do debate para reafirmar e repensar certos conceitos que muitas vezes são adquiridos sem nenhum senso crítico, conceitos que vêm sendo construídos desde a infância, com brinquedos, em desenhos. O que não é discutido não é repensado, não tem visibilidade e não tem voz”.
Já Zélia Lemos, diretora de mulheres do DCE e também organizadora do encontro, reforçou o compromisso da FEUC com a formação de professores:
“O que eu penso ser principal para a gente trazer esse debate é porque a gente está em uma faculdade que forma professores. Como a Meire disse durante a palestra, a gente tem que estar constantemente desconstruindo e construindo em cima do que a gente fala, fugir de certos paradigmas, principalmente porque somos professores. A gente vai influenciar pessoas e, mesmo sem querer, a gente pode excluir alguém no discurso”, argumentou.
Na plateia também estiveram presentes estudantes de outras instituições de ensino da Zona Oeste. (Foto: Pollyana Lopes)
Na plateia também estiveram presentes estudantes de outras instituições de ensino da Zona Oeste. (Foto: Pollyana Lopes)
O evento, que aconteceu no dia 10 de março, destacou a condição da mulher negra na sociedade. O tema foi lembrado e debatido por quatro das seis mulheres presentes na mesa, que eram negras. A sensação, principalmente para mulheres que assistiam à palestra (como a repórter que escreve este texto) foi inspiradora. Não é comum assistirmos a mulheres tão diferentes afirmarem suas identidades de forma tão veemente e esbanjarem autonomia em discursos inteligentes e articulados. Ao promover o Encontro de Mulheres da Zona Oeste, o DCE-FEUC cumpre um papel essencial para a promoção da igualdade de gênero e mostra, pelo exemplo, as consequências positivas do empoderamento feminino.

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