“O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê”
Evento na FEUC debate inclusão e acessibilidade para pessoas cegas ou com baixa visão e o papel do professor de português nesse processo
Por Pollyana Lopes
Aconteceu na FEUC, na última quarta-feira, dia 6 de julho, o “I Encontro de Educação, Acessibilidade, Arte e Inclusão”, um evento para oficializar a participação da FEUC na Rede de Leitura Inclusiva, um dos projetos da Fundação Dorina Nowill, e celebrar o primeiro aniversário da Lei Brasileira de Inclusão.
A parceria da FEUC com o projeto é mais um fruto das atividades do PIBID Letras que, por meio da Produção de Acervo de Áudio, aproximou-se da Fundação Dorina, uma instituição que há 70 anos trabalha pela inclusão social de pessoas com deficiência visual. O objetivo era fazer com que as gravações de textos de domínio público lidos por estudantes de escolas públicas, sob a orientação de bolsistas das FIC, chegassem a cegos e portadores de baixa visão. Com a integração da FEUC à Rede, a parceria entre as instituições se fortalece e reforça o compromisso de ambas em promover ações voltadas para pessoas com deficiência visual.
“Esse encontro faz de todos os presentes cofundadores, testemunhas, parceiros também desse compromisso que a FEUC já vem trabalhando há algum tempo e que, a partir de agora, está assumindo definitivamente, tornando público para a comunidade de estudantes e para a comunidade externa”, frisou o professor Erivelto Reis.
O evento contou com a projeção do documentário “Janela da Alma”, um filme dos diretores João Jardim e Walter Carvalho, com depoimentos de homens e mulheres com diferentes níveis de deficiência visual. E também com falas do professor das FIC e psicólogo Marco Antônio Chaves, da professora da rede estadual Tatiana Reis, e do estudante do 3º ano do Colégio Albert Sabin Jeanderson Baptista, que é cego.
Tatiana falou sobre o papel de professores de português nos processos de inclusão, e declarou que o objetivo do educador é sensibilizar os estudantes para o texto e desenvolver neles autonomia para o aprendizado. Jeanderson, que foi aluno de Tatiana há dois anos, comentou sobre o seu processo de aprendizagem, alguns métodos e sua experiência como monitor na Sala de Recursos, um espaço, no Colégio Albert Sabin, que conta com materiais e atividades pedagógicas complementares orientadas por um Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado, com o objetivo de apoiar estudantes cegos, surdos e portadores de síndromes. O professor e psicólogo Marco Antônio destacou que, na qualidade de psicólogo, a prática de consultório o fez acreditar que uso da palavra deficiência reforça a diferença como algo pejorativo na sociedade e prefere o uso de outros termos, como disfunção.
Por fim, a fala do poeta Manoel de Barros no documentário “Janela da Alma” poetiza a ação cotidiana de quem atua no sentido de incluir socialmente pessoas com deficiências visuais, principalmente por meio da leitura. Jeanderson e os demais cegos não contam com o olho para ver, mas as palavras faladas podem inspirar as lembranças a serem revistas e, assim, o conhecimento a ser produzido por meio da imaginação, que transvê um mundo mais acessível, inclusivo e justo. Como complementa o poeta, “É preciso transver o mundo”.
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