quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Letras: Semana Acadêmica do curso completa 25 anos com dezenas de atividades

Letras: Semana Acadêmica do curso completa 25 anos com dezenas de atividades


Durante quatro dias de evento o público pôde enriquecer seus conhecimentos com palestras, mesas-redondas, oficinas e diversas outras programações
Por Gian Cornachini e Pollyana Lopes
Há quem diga que parece ter sido ontem que o curso de Letras das FIC promoveu, pela primeira vez, sua Semana Acadêmica. Mas o fato é que o evento já está na 25ª edição, garantindo o sucesso de sempre, seja por meio de suas ricas palestras ou por relatos e experiências de estudantes e professores com um único objetivo: fortalecer o saber teórico, técnico e humano do universo das Letras. E, neste ano, para comemorar seu Jubileu de Prata, a temática central foi “Práticas, teorias e talentos no cenário literário e linguístico contemporâneo” — fio condutor de quase meia centena de atividades, entre comunicações científicas, palestras, mesas-redondas, oficinas, exposições e muito mais. Um resumo da Semana Acadêmica — que aconteceu de 31 de maio a 3 de junho, nos períodos da manhã e da noite — você confere a seguir.
Reencontro com a FEUC: ex-alunos relembram trajetória acadêmica
Para introduzir os graduandos no clima dos 25 anos da Semana, uma mesa-redonda foi organizada com a presença de ex-alunos de destaque. Ao público, eles contaram um pouco sobre como foi seu percurso acadêmico e as experiências pós FEUC.
Longe da Polícia Militar, Rodrigo Torres se apaixonou por dar aula. (Foto: Gian Cornachini)
Longe da Polícia Militar, Rodrigo Torres se apaixonou por dar aula. (Foto: Gian Cornachini)
O ex-agente da Polícia Militar Rodrigo Torres está apaixonado por dar aula e valoriza a mudança de carreira: “Graças a Deus eu saí da PM. Hoje eu faço o que gosto, e isso não tem preço. Não desistam e não parem de estudar. Tem que chegar em casa, sentar e pesquisar, preparar a sua aula, porque o aluno não vai engolir tudo o que você disse”.
Ramayana Del Secchi Linhares se formou recentemente e já atua como professora no Município, tendo dicas a oferecer: “Na maioria das vezes o aluno não acredita que é capaz porque os pais também não acreditam. Cabe a vocês, que tiveram uma boa formação, mostrar que esse aluno é capaz, porque se a educação não for para fazer diferença, então ela não valerá a pena”, ressaltou. Armando de Carvalho, que trabalha com educação para presidiários, concorda com Ramayana e procura, assim como a professora, transformar a vida dos detentos por meio da educação: “É muito importante atuar como incentivador, estimulador daquela criatura à sua frente que está ansiosa para ouvir o que você tem a dizer. O segredo todo é inspirar”, afirmou.
Grupo destacou, em geral, os desafios e importância de ser professor. (Foto: Gian Cornachini)
Grupo destacou, em geral, os desafios e importância de ser professor. (Foto: Gian Cornachini)
Embora não pretenda ser professora, a atriz Gui Soarrê, também formada recentemente em Letras nas FIC, valoriza a profissão dos colegas: “Lecionar não é a minha grande paixão, mas eu acho uma profissão heroica. Vou usar a poesia e o teatro para também tocar as pessoas, usar o poder humanizador da arte para tocar essa essência humana”, disse Gui.
A coordenadora do curso, Arlene da Fonseca Figueira, fez uma análise das falas, destacando o respeito de todos pela figura do educador: “Nem todos são professores, mas todos são ex-alunos bem sucedidos, cada um com suas escolhas. E a voz que me encantou aqui é o respeito ao professor. Nossa sociedade e os políticos não têm esse mesmo respeito, mas só conseguiremos ir à frente quando respeitarem o professor e valorizarem a educação”.
CD “No caminho das Letras” é lançado no evento
Os professores Erivelto da Silva Reis e Arlene da Fonseca Figueira, à frente do subprojeto “Produção de Acervo de Áudio” (Letras/Português) do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) nas FIC, aproveitaram a Semana Acadêmica para apresentar aos estudantes o CD “No Caminho das Letras”. A produção, destinada a deficientes visuais, reúne diversas gravações de clássicos da literatura em domínio público, além da obra do poeta Primitivo Paes, lidas por estudantes do Ensino Fundamental II da Escola Municipal Euclides da Cunha, em Guaratiba. Erivelto revelou a satisfação de ter concluído o trabalho: “Esse CD é um motivo de orgulho para nós. Despertamos a leitura e compreensão do que os alunos liam e discutiam. Eles se tornaram sujeitos de sua própria leitura e entendiam que a pessoa cega que ouvirá os áudios dependerá da emoção, boa leitura e interpretação do texto”.
CD é destinado a deficientes visuais e tem textos literários lidos por crianças do Ensino Fundamental. (Foto: Gian Cornachini)
CD é destinado a deficientes visuais e tem textos literários lidos por crianças do Ensino Fundamental. (Foto: Gian Cornachini)
A aluna Joyce da Silva dos Santos, uma das alunas bolsistas do subprojeto e que apresentou um resumo do trabalho aos licenciandos, contou o que aprendeu com a atividade do Pibid: “Eu não posso simplesmente chegar na escola e apresentar Machado de Assis sem contextualizar e mostrar o que posso tirar dali. A gente tem que puxar um ganchinho com as nossas experiências para perceber os efeitos da literatura em nossa vida e ver o que ela tem em comum com a gente”, destacou ela.
Joyce da Silva dos Santos é bolsista do Pibid e apresentou o projeto e resultados para os alunos. (Foto: Gian Cornachini)
Joyce da Silva dos Santos é bolsista do Pibid e apresentou o projeto e resultados para os alunos. (Foto: Gian Cornachini)
Homenagem póstuma à ex-coordenadora do curso
A 25ª Semana de Letras também dedicou uma atividade a relembrar uma figura bastante importante para o curso das FIC: a professora Miriam da Silva Pires, falecida em fevereiro de 2013, quando era professora do curso de Letras da UFRRJ. Antes de passar no concurso para aquela instituição (em 2010), Miriam foi, durante anos, coordenadora de Letras das FIC. Ela esteve na organização de diversas edições da Semana Acadêmica, colaborando com a consolidação de um dos eventos mais importantes da FEUC.
Professores Erivelto Reis e Flávio Pimentel relembraram trajetória de Miriam da Silva Pires na FEUC. (Foto: Gian Cornachini)
Professores Erivelto Reis e Flávio Pimentel relembraram trajetória de Miriam da Silva Pires na FEUC. (Foto: Gian Cornachini)
Os professores Erivelto Reis — que teve a oportunidade de ser aluno de Miriam — e Flávio Pimentel — que teve a honra de compartilhar mesas-redondas com a professora — contaram os momentos mais marcantes que tiveram com ela e destacaram sua importância para o curso de Letras das FIC: “Você ficava impressionado de onde vinha tanto conhecimento e as relações que ela estabelecia entre as diferentes áreas do saber. Celebrar a memória dela é celebrar o legado de uma pessoa que lutou a vida toda para que a educação transformasse a vida das pessoas”, ressaltou Erivelto. “Em nossas conversas entre filosofia e literatura havia uma proximidade muito grande [dos saberes], até o ponto de que eu nunca mais deixei de apresentar alguma coisa na Semana de Letras”, lembrou Flávio.
Antes de partir para os EUA, uma colaboração com a Semana
André Nascimento se formou em Letras (Português/Inglês) nas FIC em 2014, emendou na pós-graduação em Língua Inglesa, também na FEUC e, agora, ruma aos Estados Unidos para cursar, com bolsa integral, o mestrado em Português e Literaturas pela The University of New México (leia a reportagem “Da FEUC para o mundo” sobre a conquista do mestrando). Durante os próximos anos, André vai pesquisar a relação entre a masculinidade latino-americana e a violência em regiões periféricas, mas, antes de partir para terra dos ianques, ele deu uma “palinha” dos seus estudos como convidado a palestrar na Semana de Letras. “O Carandiru e o medo: a masculinidade e a violência social em voga (des)cortinados pela narrativa fílmica” foi o tema de sua apresentação, que buscou esclarecer a relações machistas e de masculinidade no filme brasileiro Carandiru (2003).
André Nascimento vai estudar, no exterior, a relação entre a masculinidade latino-americana e a violência em regiões periféricas. (Foto: Gian Cornachini)
André Nascimento vai estudar, no exterior, a relação entre a masculinidade latino-americana e a violência em regiões periféricas. (Foto: Gian Cornachini)
Segundo André, a lógica de estupro dentro do presídio passa por um conceito de “herói” de uma “mitologia invertida”, além da constante necessidade de se autoafirmar como forte e macho: “Para que um detento tenha status de homem, ele precisa diminuir o outro. No banho, eles nunca ficam de bunda para o outro, ou seja, uma questão de autoafirmação”, ponderou André. “Um prisioneiro precisava fazer uma cirurgia, mas o médico disse que seria muito arriscado. E, ainda assim, o homem afirmou ter duas balas no corpo e que, portanto, aguentaria. Mesmo em meio à dor, afirmar-se como homem era altamente relevante”.
Para o estudante, esses fenômenos acontecem porque o homem latino-americano segue um padrão do que é ser homem, por diversas vezes carregado de valores sexuais: “É preciso ter uma habilidade sexual como maratonista para se aprovar e nunca pode dizer não ao sexo com uma mulher, porque aí a sua masculinidade seria confrontada”, explicou.
O Ciclo do Café e a produção literária
Em um intercâmbio entre História e Literatura, os professores Erivelto Reis, de Letras, e Márcia Vasconcellos, do curso de História, articularam contexto histórico e a produção artística e literária durante o Ciclo do Café no Vale do Paraíba.
Márcia falou das condições específicas que tornaram essa região privilegiada para a produção de café, na época, e forjaram os grandes barões do período. Além de mostrar o desejo deles em integrar a nobreza:
“Ao contrário de outras áreas, onde os cafeicultores investem em grandes inventários e casas opulentas para demonstrar riqueza e poder, em Vassouras não vai ficar só nisso, e como consequência surge uma vida urbana e cultural”, explicou. O professor Erivelto complementou: “Para eles, apenas ser rico não era suficiente, eles queriam fazer parte da elite. Conhecer a história desse período ajuda a gente a entender a ideia de elite no Brasil”, revelou.
Professora Márcia, do curso de História, apresentou o contexto social e político que permitiu que produtores de café do Vale do Paraíba se tornassem grandes barões. (Foto: Pollyana Lopes)
Professora Márcia, do curso de História, apresentou o contexto social e político que permitiu que produtores de café do Vale do Paraíba se tornassem grandes barões. (Foto: Pollyana Lopes)
Também foi colocado por ambos os professores o papel da escravidão nessa sociedade. Márcia destacou as estratégias de sobrevivência e leitura dos escravos como sujeitos históricos. Erivelto, que faz pesquisa na região, contou que o tema é ausente nas visitas guiadas e museus do local, e fez um apelo aos estudantes: “Fica o convite para a galera de Literatura para, quando estudar romantismo, discutir essas relações, sobretudo aquela geração condoreira, Castro Alves, Gonçalves Dias. É preciso perceber o que esses homens estão vendo para escrever literatura. E eles estão vendo isso aí, sofrimento, escravidão, poderio econômico, opulência, esses homens achavam que não iam empobrecer nunca”.
A literatura dentro dos livros e no palco
Além de palestras, mesas-redondas e comunicações coordenadas, a Semana de Letras também apostou no lúdico como forma de conhecimento. Em sintonia com o tema do evento, “Práticas, teorias e talentos no cenário literário e linguístico contemporâneo”, o espetáculo teatral “De dentro dos livros” arrancou risadas e também levou à reflexão. A peça fez uma oposição entre leitura e tecnologia, na qual personagens dos livros se materializaram em busca de novos leitores, já que estão desaparecendo devido ao interesse das crianças pela tecnologia.
Lara (ao centro) é uma menina apaixonada por livros e por brincar ao ar livre, mas sua prima só quer saber de jogos digitais. Então, os personagens favoritos de Lara saem dos livros na tentativa de conquistar novamente as crianças a lerem. (Foto: Pollyana Lopes)
Lara (ao centro) é uma menina apaixonada por livros e por brincar ao ar livre, mas sua prima só quer saber de jogos digitais. Então, os personagens favoritos de Lara saem dos livros na tentativa de conquistar novamente as crianças a lerem. (Foto: Pollyana Lopes)
A ideia de apresentar a obra partiu da estudante do 3º período de Letras Amanda Barboza, que também foi monitora da Semana. Ela, que é atriz e integra o Grupo Pipa, disse ter se surpreendido com o resultado, já que o espetáculo é mais voltado para o público infantil. “Eu até chamei uns alunos do CAEL para assistirem, mas as pessoas mais velhas também gostaram muito e riram bastante, porque mesmo as peças infantis têm apelo para outros públicos. O teatro foi a minha primeira profissão, conseguir a arte com a minha segunda profissão, que é ser professora, eu achei ótimo”, disse.
“As minhas raízes são aqui”
Pelos corredores da FEUC, no último dia da Semana de Letras, o professor Gustavo Adolfo da Silva  poderia passar despercebido pelo pátio não fosse o cumprimento dos mestres do curso de Letras acolhendo-o, agradecendo sua presença e parabenizando-o. Convidado a palestrar, ele não pôde participar por conta de outros compromissos, mas fez questão de prestigiar o evento. Gustavo, que é professor aposentado pela UERJ, cursou mestrado e doutorado na UFRJ e tem 13 livros publicados — sendo três de poesia — garante que a FEUC é a sua casa: “A minha graduação foi aqui, minha primeira especialização foi na FEUC, sou morador de Campo Grande. Eu dei aulas aqui durante dez anos, as minhas raízes são aqui”, disse.
Professor Gustavo Adolfo se formou nas FIC e trabalhou como professor aqui por dez anos. (Foto: Pollyana Lopes)
Professor Gustavo Adolfo se formou nas FIC e trabalhou como professor aqui por dez anos. (Foto: Pollyana Lopes)
Entre 1974 e 1984 Gustavo lecionou disciplinas de Filologia, Sintaxe e Estilística. Sua atuação como professor, no entanto, foi passada adiante por meio de seus livros e das histórias de colegas. O professor Erivelto foi um dos que o encontraram e não perdeu a oportunidade de agradecê-lo: “Querido mestre, que satisfação reencontrá-lo. Seja bem-vindo a esta casa mais uma vez, é uma inspiração para nós. A sua presença nos honra muito e nos incentiva a continuar, porque os seus ensinamentos são importantes e a sua trajetória profissional é de inspiração para todos nós”, saudou.
Ligeiramente tímido, ele agradeceu o reconhecimento e o dedicou ao magistério: “Quando a gente está nessa idade, eu tenho 70 anos, sempre dedicado ao magistério, o magistério foi minha vida, é muito bom ouvir isso. É muito gratificante, para mim, ter o reconhecimento de ex-alunos, daqueles que leram os meus trabalhos. São coisas que a gente pode dizer que valeu a pena. A atividade docente vale a pena pelo reconhecimento de todos aqueles que eu convivi ao longo da minha vida”, acentuou.
Enquanto esperava sua neta que estuda no CAEL, ele aproveitou para mostrar, aos estudantes, seus livros que estavam à venda na banca do evento. Desconhecido da maioria, mas fundamental para a história do curso de Letras das FIC.
Mais fatos e fotos:
Professora Norma apresentou sua pesquisa de doutorado, na qual ela elaborou um livro didático bilíngue em português e guarani. (Foto: Pollyana Lopes)
Professora Norma apresentou sua pesquisa de doutorado, na qual ela elaborou um livro didático bilíngue em português e guarani. (Foto: Pollyana Lopes)
Viviane Barbosa, Michele Santos, Dandara Ignácio e Raissa Lima compuseram a mesa-redonda "Letramento literário como ferramenta de inclusão", na qual apresentaram análises sobre as experiências vivenciadas no projeto Pibid. (Foto: Pollyana Lopes)
Viviane Barbosa, Michele Santos, Dandara Ignácio e Raissa Lima compuseram a mesa-redonda “Letramento literário como ferramenta de inclusão”, na qual apresentaram análises sobre as experiências vivenciadas no projeto Pibid. (Foto: Pollyana Lopes)
Raissa Rizetto, Juliana Conceição e Gustavo da Silva apresentaram a mesa-redonda "Pibid na formação continuada do docente" e debateram o como o projeto contribui no processo de formação dos futuros professores. (Foto: Pollyana Lopes)
Raissa Rizetto, Juliana Conceição e Gustavo da Silva apresentaram a mesa-redonda “Pibid na formação continuada do docente” e debateram o como o projeto contribui no processo de formação dos futuros professores. (Foto: Pollyana Lopes)
Estudantes tiveram protagonismo em várias atividades. Na foto, as estudantes Ana Carolina de Aguiar (esquerda), Fabiane Souza (ao centro) e Andreza da Silva (direita) entre as professoras Ana Paula Cypriano e Lucy Julião após o mini-curso "Aprendendo a Ensinar, uma jornada Quixotesca", que elas apresentaram conjuntamente. (Foto: Pollyana Lopes)
Estudantes tiveram protagonismo em várias atividades. Na foto, as estudantes Ana Carolina de Aguiar (esquerda), Fabiane Souza (ao centro) e Andreza da Silva (direita) entre as professoras Ana Paula Cypriano e Lucy Julião após o mini-curso “Aprendendo a Ensinar, uma jornada Quixotesca”, que elas apresentaram conjuntamente. (Foto: Pollyana Lopes)
Uma das atividades da Semana de Letras fez a alegria de amantes da culinária portuguesa e famintos de planto. Estudantes das turmas de Teoria Literária Portuguesa prepararam uma mesa culinária com pratos típicos como bacalhoada, quindim, pastéis de belém, pães de centeio, entre outros. (Foto: Pollyana Lopes)
Uma das atividades da Semana de Letras fez a alegria de amantes da culinária portuguesa e famintos de planto. Estudantes das turmas de Teoria Literária Portuguesa prepararam uma mesa culinária com pratos típicos como bacalhoada, quindim, pastéis de belém, pães de centeio, entre outros. (Foto: Pollyana Lopes)

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