terça-feira, 2 de maio de 2017

Morre no Rio, aos 84 anos, o Acadêmico, professor, escritor e ex-Ministro da Educação Eduardo Portella, sexto ocupante da cadeira 27 da ABL, desde 19 de março de 1981

Morre no Rio, aos 84 anos, o Acadêmico, professor, escritor e ex-Ministro da Educação Eduardo Portella, sexto ocupante da cadeira 27 da ABL, desde 19 de março de 1981

Fonte: http://www.academia.org.br/noticias/morre-no-rio-aos-84-anos-o-academico-professor-escritor-e-ex-ministro-da-educacao-eduardo




O Acadêmico, professor, escritor e ex-Ministro da Educação Eduardo Portella morreu, vítima de parada cardíaca, hoje, dia 2 de maio, no Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, onde fora internado domingo, dia 30 de abril. Deixa viúva Célia Portella e uma filha, Mariana.
O corpo será velado no Salão dos Poetas Românticos, no Petit Trianon, da ABL, de onde seguirá para o mausoléu Acadêmico, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.
Imediatamente ao tomar conhecimento do falecimento, o Presidente da ABL, Acadêmico e professor Domício Proença Filho, determinou luto por três dias e que a bandeira da Academia fosse hasteada a meio mastro, e afirmou: “Com a ausência de Eduardo Portella, perde o Brasil um excepcional pensador da cultura, um professor e crítico de alta presença e porte. A Casa de Machado de Assis, um Acadêmico de forte liderança e marcada atuação”.
A Secretária-Geral da ABL, Acadêmica e escritora Nélida Piñon, disse sobre a morte do Acadêmico Eduardo Portella “que ele era um grande mestre do pensamento brasileiro. Soube, com rara perspicácia, interpretar o fenômeno literário. O Brasil perde um grande homem, e a Academia, um de seus pilares”.
“Eduardo Portella foi um extraordinário dominador de palavras, um crítico literário inigualável. Jamais usou o Academia. Serviu-a com grande competência e entusiasmo”, disse o Acadêmico e ex-Presidente da ABL, Marcos Vilaça.
Sexto ocupante da Cadeira 27, eleito em 19 de março de 1981, na sucessão de Otávio de Faria e recebido em 18 de agosto de 1981 pelo Acadêmico Afrânio Coutinho. Recebeu as Acadêmicas Lygia Fagundes Telles e Zélia Gattai, Rosiska Darcy de Oliveira e os Acadêmicos Carlos Nejar, Celso Furtado, Candido Mendes de Almeida, João Ubaldo Ribeiro, Ivan Junqueira, Alfredo Bosi, Geraldo Holanda Cavalcanti e Evaldo Cabral de Mello.
Os ocupantes anteriores da Cadeira 27 foram: Joaquim Nabuco, fundador – que escolheu como patrono Maciel Monteiro -, Dantas Barreto, Gregório Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria.
Eduardo Portella nasceu em Salvador (BA), em 8 de outubro de 1932. Filho de Enrique Portella e de Maria Diva Mattos Portella. Fez os primeiros estudos em Feira de Santana e os secundários no Recife. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, em 1955.
No primeiro ano do curso de Direito iniciou-se na crítica literária no Jornal Universitário, colaboração única, mas que positivou o início de uma vocação. Começou sua colaboração regular de crítico no Diário de Pernambuco, pela mão de Mauro Mota. Entrou no convívio de Gilberto Freyre, Aníbal Fernandes, Lucilo Varejão, Moacyr de Albuquerque. Fez parte do grupo de jovens intelectuais que fundou a Editorial Sagitário. É considerado o introdutor, no Brasil, na crítica militante, da “nova crítica de base estilística” (registro de Afrânio Coutinho) e, no ensino universitário de Letras, da “compreensão ontológico-hermenêutica” (conforme Emmanuel Carneiro Leão).
De 1952 a 1954, concomitante — como permitia a lei educacional vigente naquele período — ao curso de Direito, fez estudos em instituições europeias de ensino superior. Em Madri, estudou Filologia, Romanística, Crítica Literária e Estilística com Damaso Alonso e Carlos Bousoño, e Filosofia com Xavier Zubiri e Julián Marías. Em Paris, frequentou as aulas de Bataillon, no Collège de France, e aulas na Sorbonne. Em Roma, na Faculdade de Letras, assistiu a aulas de Giuseppe Ungaretti, sobre Literatura Italiana.
Estreou em livro com Aspectos de la poesía brasileña contemporânea, tese apresentada nas Jornadas de Lengua y Literatura Hispanoamericana, em Salamanca, em 1953.
Desde esse ano, fez opção pela docência universitária: inicialmente em Madri, na Faculdade de Letras da Universidade Central de Madri; seguida, em Recife, na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Federal de Pernambuco; prosseguindo no Rio de Janeiro, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde permaneceu conquistando todas as titulações, por concursos públicos de provas e títulos, até receber o título de Professor Emérito.
Simultaneamente ao exercício acadêmico, ocupou inúmeros e diferentes cargos públicos no Brasil, desde 1956, quando foi nomeado Técnico de Educação do Ministério da Educação e Cultura, até 1979, quando exerceu a maior função desse mesmo ministério, Ministro de Estado da Educação, Cultura e Desportos.
Sua trajetória administrativa, e funções exercidas no campo da educação e da cultura, se fizeram marcar também no exterior, a partir de 1988, quando foi nomeado Diretor Geral Adjunto da UNESCO, cargo que ocupou por cinco anos consecutivos. Foi eleito, para o período de 1997-1999, pelo colegiado superior, Presidente da Conferência Geral da UNESCO. Coordena, desde 1998, o Comitê Chemins de la Pensée d´aujoud´hui (UNESCO-Paris). E foi eleito em 2000, e reeleito em 2003, Presidente do Fond International pour la promotion de la Culture (UNESCO-Paris). Destas funções se desligou em 2009, para se dedicar à edição de suas obras reunidas, publicadas e por publicar.
Deixou registrada nos anais da história a frase: “Não sou ministro, estou ministro”, demonstrando a transitoriedade do cargo público. Ao deixar o Ministério por defender a valorização dos professores, pleito da greve dos docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, recebeu o apoio de intelectuais como o do Alceu Amoroso Lima, registrado em artigo no Jornal do Brasil, intitulado: «Caiu para cima».
Eduardo Portella teve um pensamento notadamente avançado: a) concebe a realidade numa recusa da tripartição linear do tempo (presente, passado, futuro), propondo a compreensão simultânea do tempo; b) define literatura e arte como dimensões constitutivas do homem; e c) assinala a Liberdade como destino do Ser.
02/05/2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário