segunda-feira, 2 de junho de 2014

ARTIGO DA REVISTA FEUC EM FOCO SOBRE A XXIII SEMANA DE LETRAS DAS FIC

Língua e Literatura para todos os gostos


Palestras,  debates  e atividades culturais do encontro acadêmico do curso de Letras abrangeram temas variados e repetiram clima dinâmico de outras edições

Por Tania Nevesemfoco@feuc.br
Fiel ao que já se tornou uma tradição, a XXIII Semana de Letras movimentou os espaços da FEUC entre quarta e sexta-feira da semana passada, oferecendo cerca de 50 atividades espalhadas pelas manhãs e noites dos três dias de evento, a maioria reunindo um numeroso público. Entre os destaques estão a homenagem feita ao poeta Primitivo Paes, na noite de quarta-feira, com o auditório lotado; o Espaço Chico Buarque, coordenado pelo professor Cícero Sotero Batista, que teve palestras e oficinas durante todos os dias, no que o professor Erivelto Reis salientou ter sido o primeiro evento acadêmico no Rio de Janeiro em homenagem aos 70 anos do cantor e compositor; e a instalação “Projeção das Letras em luzes e formas, sobre um olhar machadiano”, idealizada pelo aluno Adriano Marcelo Leandro Monte. A exposição de pôsteres no pátio também foi um ponto alto, com quase duas dezenas de trabalhos, a maioria fazendo análise de discurso de temas atuais como Copa do Mundo, notícias de jornais e campanhas publicitárias.
O Maestro David de Souza rege o Coro Ecos Sonoros, formado por alunos e alunas, na homenagem a Primitivo
O Maestro David de Souza rege o Coro Ecos Sonoros, formado por alunos e alunas, na homenagem a Primitivo
A homenagem ao poeta Primitivo Paes, falecido ano passado, se iniciou com uma apresentação do Coro Ecos Sonoros, regido pelo maestro David de Souza, com canções ensaiadas especialmente para a ocasião (“Tem que ser assim”, “Vamos fugir”, “Wave” e “Alfabeto”). O sarau a seguir ficou a cargo do professor Erivelto Reis e um grupo de alunos que leram algumas das poesias de Primitivo. Na plateia, a família do artista – filhas e netos – prestigiou a apresentação. “Desde que Erivelto trouxe o Primitivo aqui, para participar de nossos eventos de Letras, eu aprendi muito com ele. Tudo para ele era motivo de alegria, riso, gargalhada. Ele me ensinou muito e ensinou também o meu filho a amar poesia. Ele via o Primitivo e ficava encantado com o jeito tão leve, genuíno, primitivo mesmo. Hoje ele tem 12 anos e passou a ter um gosto especial por escrever poesias, e me pergunta: ‘mãe, será que vou ficar igual a ele?’. Tomara que sim”, disse na abertura a professora Arlene da Fonseca Figueira, coordenadora de Letras.
Atividades espalhadas por diversos espaços da FEUC
Paralelamente à homenagem no auditório, outros eventos aconteciam, como as sessões de Comunicações Individuais e Coordenadas (com professores e alunos das FIC) e palestras dos professores convidados Ronaldo Lima Lins (“A humanidade ferida”), Carina Lessa (“Em Liberdade: um discurso falso mentiroso, se Silviano Santiago”) e Cida Gonda (“Literatura e Revolução dos Cravo”), entre outros.
Norma Jacinto na palestra "Repensando o Português":  é preciso respeitar a variedade linguística do país (Foto: Ricardo Nielsen)
Norma propõe “Repensar o Português”: é preciso respeitar variedade linguística do país (Foto: Ricardo Nielsen)
No segundo dia do evento, entre as palestras mais concorridas estiveram “Repensando o Português do Brasil com Rosa Virgínia Mattos e Silva, Rodolfo Ilari, Renato Basso e Marcos Bagno”, ministrada pela professora Norma Jacinto; “A inclusão e seus diferentes saberes”, pela convidada Bárbara Andrade; e “O discurso do jogo dos poderes: em foco a recente greve (2013) dos profissionais da rede pública da educação básica do Rio de Janeiro”, com a professora Arlene da Fonseca Figueira. Em sua fala, Norma ressaltou que não há um único modo correto de falar o português, e por isso os diferentes sotaques e saberes dos alunos devem ser respeitados e acolhidos pelo professor, sem prejuízo de sua função de ensinar a norma padrão. “O aluno tem uma gramática internalizada, que é a do grupo com o qual ele convive. Se não está de acordo com a norma padrão, não significa que ele não sabe português. Certa vez recebi um aluno que simplesmente não falava, pois o levaram a ter vergonha de seu sotaque nordestino. Então eu disse: ‘Você não fala que é pra eu não ouvir o sotaque lindo que você tem? Sou apaixonada pelo sotaque do Nordeste, sempre que passo um tempo lá eu voltou cantando…’ e o aluno passou a se sentir bem na turma e começou a falar”.
Barbara
Bárbara: declaração de amor à profissão e a duas professoras em especial (Foto: Ricardo Nielsen)
Também em sua palestra, a hoje professora da Faetec e ex-aluna das FIC Bárbara Andrade chamou a atenção dos futuros professores sobre a importância de eles se empenharem verdadeiramente pela inclusão dos alunos, vencendo as barreiras que se apresentam em vez de se render a elas: “Claro que há falha do sistema, nem sempre as condições necessárias estão dadas, mas muitas vezes há falha também do professor, ele também exclui, deixa de fazer o que está a seu alcance para o aluno se incluir. Dá trabalho? Tudo dá. Mas o professor que constrói uma atividade com o objetivo de contemplar um único aluno com comprometimento acaba tornando aquela atividade estimulante para todos”, ensinou, em seguida fazendo uma declaração de amor à profissão e a duas professoras da FEUC em especial: “Fui aluna daqui há 10 anos e estou muito feliz de retornar. E a prova de que o professor é fundamental na vida dos alunos é que tive aqui diversos professores que enriqueceram muito a minha prática, em especial as professoras Irene Viana e Ana Lúcia Rimes. Espero que vocês também encontrem referências assim”.
A abordagem crítica aos livros didáticos, feita no primeiro dia do evento em atividade com alunos tutoriada pela professora Arlene, voltou a ser tema  nas comunicações coordenadas que o professor Erivelto Reis mediou no dia seguinte.  Alunos e alunas apresentaram os resultados – acertos e dificuldades – da preparação de uma prova de aula. Muitos, como Guy Soarrê, relataram a dificuldade de encontrar em livros didáticos os temas que escolheram para abordar (no caso dela, as cantigas de trabalho que fazem parte do nosso folclore). O que corrobora a tese de Erivelto de que nem sempre o livro didático é suficiente para atender às necessidades da educação: “O professor não deve ser só um administrador do conteúdo proposto pelos livros, mas ter autonomia para testar outras possibilidades, adequar os conhecimentos à realidade de cada turma, cada aluno se possível. Paulo freire fazia isso, e conseguia aproximar as pessoas da leitura, do exercício da cidadania”.
Letras, luzes, Machado… e os 70 anos de Chico Buarque
A aluna de Letras Silvia da Silva Ferreira levou o filho Mateus César, do Pré II do CAEL, para ver a instalação
A aluna de Letras Silvia da Silva Ferreira levou o filho Mateus César, do Pré II do CAEL, para ver a instalação
Não houve quem entrasse na sala A405 que não saísse de lá encantado: a instalação do aluno Adriano Marcelo inspirada na obra e no universo de Machado de Assis era impactante. Num ambiente revestido de panos pretos, ele espalhou pelas paredes e chão cartazes com os resumos de 32 obras do escritor, com uma máquina de escrever no centro e um jogo de luzes que a todo momento ressaltava ou ocultava detalhes. O objetivo, segundo Adriano, era estimular a curiosidade dos visitantes. “Muita gente só olhava, outros liam trechos e memorizavam alguma coisa com a intenção de depois consultar a obra”, explicou.

Na sala de vídeos da Biblioteca, o professor Cícero Sotero Batista conduziu durante todos os dias uma série de palestras e oficinas tendo como mote a obra de Chico Buarque, que mês que vem completa 70 anos. A alma feminina, as canções e obra literária do compositor e escritor foram alguns dos temas abordados, sobretudo as possibilidades de uso da canção em atividades de sala de aula. “A ideia é trabalhar a canção como um produto singular da cultura brasileira, pois ela faz uma ponte entre a cultura oral e a cultura escrita. Pode-se começar com as canções e depois alçar voos maiores, estudando os textos mais integralmente”, disse o professor.
 Lançamento de livros
A Semana de Letras teve ainda o lançamento de dois livros: “Cinema no Brasil – Impressões”, do professor da FAMA Eleazar Diniz dos Santos; e “A face oculta do verso”, da professora das FIC Rita Gemino. Também poeta, ela reuniu no auditório um grupo de alunos das licenciaturas e, antes de falar especificamente sobre este mais recente livro, fez um apanhado sobre suas obras anteriores – muitas delas concebidas com o intuito de auxiliar o trabalho em sala de aula, em DVDs e CD-Roms – e contou com a colaboração de voluntárias para ler seus poemas.

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